Por: Garrido
Há momentos na vida em que você deve deixar a pose de lado e admitir: tem gente muito mais esperta do que você.
O leitor testemunha, enquanto lê estas linhas, o exato momento em que este blogueiro entrega os pontos e abdica de tentar analisar um filme e classificar se ele é bom ou mau programa. O filme é A Origem, de Christopher Nolan, uma das coisas mais malucas já exibidas em salas de cinema e, ao mesmo tempo, um enorme sucesso.
O filme, que lembra um pouco Matrix, lembra outro tanto Vanilla Sky e evoca vários momentos do David Lynch, está arrebentando nas bilheterias americanas - tem gente vendo e revendo e declarando que é o melhor filme que viu na vida - e acaba de estrear nos cinemas brasileiros. A crítica tem se dividido entre gente que se entrega à inventividade e ao espetáculo de Nolan, e gente que simplesmente desceu a lenha por julgar o filme desagradável e confuso. BLOGIE se alinha com o primeiro grupo: A Origem é a coisa mais surpreendente do ano, merece o sucesso que está fazendo e vale uma segunda e uma terceira ida ao cinema. Deve fazer bela carreira em DVD / Blu-Ray.
Nolan tem crescido como pouquíssimos cineastas: estreou com o deveras confuso Amnésia, deixou uma pulga atrás da orelha com o bom e subestimado Insônia, acertou em cheio com O Grande Truque e arrebentou com o último Batman - o Cavaleiro das Trevas. Em comum, todos os filmes trazem elenco impecável com atuações mais que perfeitas, apuro estético muito acima da média e roteiros engenhosos com desfechos de tirar o fôlego. O cara é realmente bom, e está cada vez melhor.
Em A Origem, ele recruta Leonardo DiCaprio para o papel do cara que invade sonhos alheios com o objetivo de roubar segredos industriais. Sua equipe inclui uma promissora arquiteta (Ellen Page, de Juno), um técnico preciso e neat (Joseph Gordon-Levit, de 500 Dias com Ela), um especialista em personificações e um químico. O time encara uma missão inédita: um magnata (Ken Watanabe, de O Último Samurai) os contrata não para roubar um segredo do concorrente, mas para plantar uma ideia em seu subconsciente. Essa "inserção" (Inception, que é o nome original do filme) demanda uma preparação muito maior, a criação de universos detalhados e um complicado mergulho no mundo dos sonhos (há sonho dentro do sonho e muitas outras maluquices). O grande obstáculo está na assombração do próprio subconsciente do líder da gangue: a ex-mulher do cara (a vencedora do Oscar Marion Cotilliard) vive atrapalhando seus planos. Falar mais é estragar o filme.
Entender toda a trama é difícil? É. Mas não será nenhum problema conferir novamente o incrível mundo de sonhos criado por Nolan - como as ruas de Paris se encurvando em direção ao céu e fechando-se num inacreditável loop. Sabe aqueles desenhos do M.E. Escher, como aquela escada infinita? É disso que estamos falando.
E há cenas infinitamente belas, como Gordon-Levit lidando com a falta de gravidade enquanto dá conta de suas tarefas. Lembra aquelas sequências coreografadas de 2001, de Stanley Kubrick.
Pensando bem, é aí que encontramos o parentesco de Christopher Nolan: ele é um discúpulo de Kubrick, com filmes que não aliviam em complexidade e que não tratam o espectador como imbecil. E não está fazendo feio. Seus dois últimos filmes - e em especial este A Origem - estão no nível dos melhores Kubricks.
A melhor coisa que um crítico pode falar ao seu leitor é a seguinte: não compre DVD pirata, não baixe, não veja A Origem em casa. Não estrague seu próprio prazer. Vá ao cinema e confira esse filmaço na maior tela que você conseguir encontrar. De preferência, no I-Max.
Por essa razão, não incluí neste post imagens ou filmes. Não ajudaria em nada e ainda atrapalharia. Abandone-se à surpresa, vai fundo.
Elenco perfeito, grandes atuações, roteiro inteligente, imagens de cair o queixo: é disso que o cinema é feito. A Origem é filme pra ficar na História.
Essa matéria foi retirada da revista Vip
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