Por: Pedro Jansen
Nos comentários do PdH (não lembro onde), chegou uma pergunta sobre o que os homens achavam das mulheres gordinhas. Ampliando a pergunta, vou falar sobre o que os homens acham das mulheres. Sim, mulheres, no geral.
Começo com uma hipótese: há dois tipos básicos de mulheres. Um deles diz respeito àquelas que ilustram capas de revista. Magra, cintura perfeita, pele incrível, seios absurdos, mãos delicadas, barriga inexistente, unhas provocativas, coxas torneadas…
A impressão de um estereótipo que, por retratar o padrão de “mulher bonita”, destaca aquelas com a genética impecável – às vezes nem tão impecável assim (já viu o dedão da Megan Fox?) – e exige uma dedicação quase única e exclusiva à imagem e ao culto do corpo.
Outro reúne aquelas mulheres reais, com desejos, obrigações, trabalhos, pressões, angústias e intempéries hormonais.
No entanto, se observarmos as mulheres perfeitas para além da capa de revista ou do cartaz do cinema, talvez encontrássemos mais mulheres reais, afinal ser a Scarlett Johansson não garante a ausência de outras formas de imperfeição, assimetria, decrepitude e problemas.
Portanto, descartando a hipótese inicial, se nos aproximarmos, se olharmos de perto, encontraremos só um tipo de mulher, ou seja, tipo algum, só mulher mesmo. No plural, melhor: mulheres. Mulheres tangíveis.
“O pior que você pode fazer é me tratar como se eu fosse a Scarlett Johansson”
Quem são as garotas que moram ao lado?
Aquelas que acordam às 6h, tomam banho correndo, tomam um iogurte de café da manhã, leem o jornal e terminam de se maquiar no carro ou metrô. Aguentam esporro do chefe, ganham menos, ignoram todas as cantadas idiotas e nojentas que só nós homens somos capazes de conceber…
São essas mulheres, com uma rotina muito mais excruciante que a nossa, que ainda precisam se manter no peso ideal, sem estrias, sem culotes, sem bad hair day, sem peito caído e mais infindáveis neuras, um bocado delas reforçadas pelos padrões de beleza e ou outro bocado marteladas pela cobrança natural que as mulheres se impõem – para se sentirem bonitas, desejadas, femininas e tantos outros adjetivos.
Nessa correria pra assobiar e chupar cana todos os dias, às vezes escapa uma unha por fazer, uma perna mais cabeluda, uma barriguinha mais saliente.
Mas você, homem consciente, inteligente, sensível e, acima de tudo, esperto, sabe mais do que ninguém que tudo isso é bobagem. E que maior bobagem ainda é reforçar as cobranças que as mulheres já se fazem todo dia.
Tudo o que elas menos precisam de você
Responder automaticamente àquela pergunta cabeluda da mulher sobre o peso, o cabelo, o peito ou as unhas é um crime maior do que dar a real. Um displicente “Não, amor, que é isso!” enquanto você mantém os olhos no monitor é a prova final de que você não está nem aí, seja para a mulher ou para a pergunta dela.
Aquela “Amor, você acha que eu estou gorda?” nada mais é que um pedido de “Por favor, me ajude a lutar contra a minha autoestima e a minha necessidade de afirmação e me diga que eu estou linda”. Não quero crer que esse raciocínio seja só meu e nem que você, homem ou mulher, vá se ofender com isso. Afinal, qual é o homem que não gosta de ouvir um “Nossa, fulano, a noite de ontem foi incrível!” e variáveis mais íntimas acompanhadas dos sinais básicos da sinceridade?
Homem gosta de mulher. E um cara perspicaz sabe que ter uma mulher satisfeita e realizada, feliz consigo mesma, é muito melhor do que ter uma mulher que vive no esforço de manter um padrão, que se furta até a comer um chocolate porque engorda, que não consegue escolher uma bebida num cardápio sem fazer as contas das calorias ou pedindo que a caipirinha seja feita com adoçante.
Lizzi Miller na revista Glamour. Você não pegava fácil?
E, antes que você me entenda mal, o que estou dizendo é que, você, homem, não deveria reforçar as neuras que já pesam tanto sobre as mulheres. Elas fazem isso bem melhor e há muito mais tempo que você. E, acredite-me, não precisam de você para ampliar isso. Ela só precisa que você goste dela – como se diz nos livros de autoajuda – como ela é.
Quem é você?
Além disso, quem é você pra apontar o dedo ou “botar banca” desse jeito? Por acaso você é alto, barbado, tem braços e mãos fortes, barriga tanquinho, coxas grossas, bunda grande, ombros largos, queixo quadrado e tantas outras características que fariam “qualquer” mulher babar?
Se você se permite tantas imperfeições, por que dar uma de moleque mimado?
“Ai, estrias, ui, não poooooooosso com elas!”
Nessa cena improvável (em fala, mas não em pensamento), em que o cara vira uma mulherzinha, eu imagino a mulher virando homem: “Para de reclamar e mete logo!”.
Mulheres, mulheres, mulheres…
Durante uma ida a um bar, uma caminhada pelo bairro, um passeio pela praia, você vai cruzar com mulheres das mais diversas formas.
Altas e magrelas, baixinhas e mais cheiinhas, mais peito, menos peito, mais bunda, menos bunda, mais barriga, menos barriga, algumas estrias aqui, um culote ali – isso sem contar todas as combinações possíveis… A variedade é imensa.
Resta saber se você prefere babar numa folha de papel produzida em série ou se relacionar com alguém tão real e única quanto você
Essa matéria foi retirada do Papo de Homem
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